sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

FOTOGRAFIA - ENTREVISTA COM JORGE PENA


Jorge Pena tem 24 anos e 15 deles dedicados ao skate. (crédito : Acervo) 
Jorge Pena tem 24 anos e 15 deles dedicados ao skate.  (crédito: Acervo)
O segundo entrevistado que vai dar continuidade à série de entrevistas sobre fotografia de skate é o skatista Jorge Pena de Vitória-ES. 


Sua paixão pela natureza, mais a paixão incondicional pelo skateboard e uma visão verdadeira, fizeram com que essa entrevista fosse levada a outros patamares.


Nesta entrevista, o skatista e fotógrafo vai nos contar como anda a cena capixaba, os estudos, suas referências e sua visão da fotografia de skate e da fotografia como um todo.


Confira a entrevista com o Fotógrafo Jorge Pena que há 15 anos se diverte em cima do carrinho;



Jorge, qual a sua ligação com o Espírito Santo?

Meus parentes moram aqui des de quando eu nascí. Apesar de sermos quase todos mineiros. Eu morava no Pará e vinha de férias para cá todo final de ano. Então de certa forma pude ver o crescimento de Vitória ao longo destes anos. Quando já andava de skate, colava aqui nas férias e dava rolê com uns camaradas. Foi assim que conheci o Luan, que é um grande amigo que anda de skate comigo por aqui até hoje. Vitória é uma das cidades mais lindas que eu já vi no Brasil.


Como foi a sua entrada no skate, teve influência ou o skate veio chegando aos poucos?

Em 1998, um amigo meu chamado Arthur, ganhou um skate e levou pra escola. Dei um rolê no skate dele, e foi amor à primeira vista. Pedi um para minha mãe e nunca mais parei. Vou andar de skate até as pernas aguentarem.


Você está se formando na UFES (Universidade Federal do Espírio Santo) no curso de Design Gráfico. Mas já trabalha na área, certo? Conta pra gente;

Estou me formando, momentos finais deste processo. Antes de entrar na Ufes eu não tive oportunidade de trabalhar na área, até porque não tinha conhecimento suficiente para isto. Mas desde guri sempre curti muito desenhar, fotografar e experimentar com vídeos e coisas do tipo. Tenho certeza que o skate tem culpa de eu estar cursando Design Gráfico hoje.


Fala um pouco do seu aguardado TCC, você trabalhou nele quanto tempo? E o que foi abordado e apresentado no projeto;

Ah o meu querido TCC. Ao longo dos anos que passei na Ufes, tive disciplinas de fotografía e vídeo além das outras matérias que tratavam sobre design. Com o tempo fui aplicando no skate, de forma orgânica, o que ia aprendendo na Ufes e com os camaradas que conheci por lá. Quando chegou no final do curso, tive que decidir o que ia fazer para o trabalho final. Foi quando me dei conta de que tinha um grande acervo de fotos e vídeos que construí junto com vários amigos ao longo destes últimos anos.

Foi aí que me ocorreu de organizar em um livro, as fotografias dos últimos 4 anos de rolê. Em seguida veio à ideia de fazer um documentário com as imagens captadas ao longo deste mesmo período e algumas entrevistas que consegui fazer com parte dos skatistas que fotografei.


Fala um pouco mais dele;

O nome do projeto é "Fragmentos, imagens sobre o skate e a vida". 

Através dele eu tento mostrar como o skate é rico e diverso, funcionando como uma ferramenta de enriquecimento cultural e humano. Muito além desta imagem bitolada e muitas vezes distorcida que a sociedade e até muitos skatistas têm sobre o skate, onde o mesmo se restringe somente em manobras e mais manobras e outras coisas rasas que a gente sabe que não é bem por aí. Tento passar esta mensagem através do depoimento dos próprios skatistas que dividiram os momentos de rolê comigo nestes últimos anos, onde rolou essa troca de vivências louca que eu chamo de skate.

Este projeto aconteceu graças a ajuda do meu amigo Pingo, sem ele certamente nada disso teria acontecido. Ele estava sempre lá me dando uma força e dividindo comigo esta caminhada. Obrigado Irmão!


Agora em fase de conclusão da graduação, qual caminho profissional você vai buscar?

Agora com o projeto na reta final, estou tentando organizar uma pequena exposição para poder compartilhar com o pessoal este material. Poder prestigiar e agradecer todos que participaram deste processo.

Sobre o meu futuro profissional, ainda não é uma certeza, e acho que vai permanecer assim um bom tempo. Comprei uns livros para continuar estudando fotografia, cinema e história da arte. Só posso dizer que cada vez estou pegando mais gosto por fotografia e áudio visual, pode ser que eu trilhe um futuro nesses rumos aí, vai saber.


Você sempre defendeu o skate for fun? Defina a sua visão do skate;

Acho que é aquela velha frase: Vivendo e aprendendo. Vamos crescendo no skate, vendo como funcionam as coisas, e passando por várias fases e momentos. Mas no final acho que tudo que vai me restar serão as boas lembranças dos momentos divertidos que passei em cima do carrinho junto com meus amigos. Hoje eu vejo o skate como uma estrada que me leva a conhecer pessoas e lugares dentro de uma outra perspectiva, onde eu posso absorver e doar um pouco de mim, sempre me divertindo. Se não é divertido, não é skate!


E a Fotografia, ela veio com a faculdade ou já dava uns clicks antes disso?

Na sétima série tive oportunidade de experimentar umas fotos com uma câmera fotográfica artesanal chamada pinhole. Foi “daora” poder revelar as fotos no laboratório e todo aquele processo. Acho que esse foi um ponto importante que me levou a continuar me interessando por fotografia.


Em seu flickr podemos ver a natureza em fotos magníficas, e você também está sempre viajando, conta um pouco dessa vibe por fotos de Natureza;

Acho que tenho essa ligação pela natureza por ter passado minha infância num lugar cercado por florestas, eu curtia muito aquilo. Hoje em dia sempre rola de viajar pra uns lugares styles, e não posso deixar passar batido, clico tudo o que posso, mantendo essa vibe que vem desde moleque.


Finalmente chegamos ao assunto principal, a fotografia de Skate. Quando chegou o interesse de fotografar skate e por quais razões?

Acho que o interesse pela foto de skate veio pelas revistas que eu via desde guri. Achava aquilo incrível, e sempre me divertia muito experimentando uns clicks nas sessions com os amigos.


O que a fotografia de skate é para você, e até onde você enxerga a relevância dela com o nosso estilo de vida?

Acho que a fotografia de skate é parte da pesquisa visual que a gente absorve dessa vida que a gente leva como skatista. Ou melhor dizendo, dessa vida do skate que leva a gente.

A importância disso é poder experimentar e exercitar esse aprendizado, fazendo do skate uma parada ainda mais divertida e interessante.


Ser skatista e fotógrafo te proporciona ter uma visão ainda mais diferenciada das formas encontradas na cidade?

Acho que sim. O skate e a fotografia nos ajudam a reconhecer os diversos significados que uma mesma coisa pode ter.


Quais são seus fotógrafos favoritos nesse segmento? 

Os fotógrafos que eu estou sempre acompanhando são o Flávio Samelo e o Renato Custódio. Acho o estilo deles bem sincero e é isso que eu busco, ser sincero na minha pesquisa, talvez um dia eu chegue lá.


Para você, quais são as regras básicas para fazer uma boa foto de skate, existe um ritual padrão em todas as fotos registradas ou não há regras para esse segmento da fotografia?

Eu não curto muito esse lance de regras. Mas acho que no processo de aprendizado temos que aprender todas as regras e fundamentos pra depois poder desconstruí-los.

Uma coisa que eu sempre tento fazer quando vou fotografar, é ficar dando umas voltas no pico pra poder ver as possibilidades de fotos que têm naquele momento, com aquelas condições.


Existe no Brasil um limitado número de revistas impressas especializadas em skate. O fotógrafo iniciante no seu cenário local, mesmo já tendo uma boa técnica e registrando boas fotos se sente acanhado em competir por uma fatia nas grandes mídias. Se existisse um interesse de cada região em ter sua própria mídia, isso além de ser benéfico para o cenário seria magnífico para a evolução do skate como um todo. Você acredita que isso possa mudar, ou teremos mais 10 anos de poucos veículos especializados em skate?

Acho que já está mudando, e para melhor. Tenho visto nos últimos anos, várias mídias independentes ganhando força em todo o Brasil. Acho que isso é muito importante para gerar conteúdo e fortalecer as cenas locais, dando espaço de produção e divulgação para fotógrafos, videomakers, artistas, designers, redatores, skatistas e mais uma galera que trampa nessa direção.


Se você tivesse que apostar no futuro da fotografia de skate no Brasil, qual seria o rumo que apostaria?

O Brasil é um ótimo lugar para se produzir fotos de skate, somos um país gigante e diverso, dá pra fazer muita coisa style. Mas acho que ainda não dá pra viver só de foto de skate, então eu não apostaria só em fotografar skate para pagar minhas contas e viver.


Quais são os seus fotógrafos favoritos na fotografia como um todo e o que pode ser visto em seus trabalhos?

Fora os clássicos como Cartier ou famosos como La Chapelle e Mc Curry eu gosto muito de pesquisar pelo flickr e outros sites do tipo.

Tem um cara chamado Joel Tjintjelaar que faz um trampo de fotografia PB incrível com umas longas exposições e arquitetura. O Daryan Dornelles, também é uma outra influência sagaz, ele têm uns retratos magníficos.


Você participa de workshops, faz cursos, como você caminha o estudo da fotografia?

Por enquanto, sempre que dá faço workshops e cursos curtos. Mas a maioria dos meus estudos são feitos por livros e pesquisas de internet. Também tem a troca de ideias com outros fotógrafos que é fundamental.


Cruzaremos a fronteira e falaremos do Espírito Santo. Particularmente gostei muito da Praça do Papa, bordas e bons visuais. Definitivamente o Espírito Santo agora é minha segunda casa, rs. Tem algum pico no Espírito Santo que sempre rende uma boa foto?

O Espírito Santo está em um momento bom, várias reformas nas cidades e edificações novas. Isso significa picos novos a todo o tempo. A praça do Papa é um lugar muito bom pra fotografar, principalmente nos fins de tarde do inverno. Outro lugar que rende umas imagens legais é a orla de Vitória, tem vários picos por lá, bordinhas e até uns gaps.


Como anda a mentalidade do skatista capixaba?

Acho que a tendência é sempre ir evoluindo. Tem um pessoal metendo a mão na massa e produzindo coisas boas para o skate, o que acaba resvalando e inspirando mais gente a continuar nesta direção. Para o alto e avante!


O Mineiro está em todas as iniciativas que sejam para melhorar o cenário. Vocês realizaram uma série de eventos para arrecadar recurso e melhorar a Praça dos Namorados. Recentemente surgiu a crise do Calçadão. Como está a relação do skate com a cidade?

Mineiro é sangue bom, e esteve junto comigo e outros camaradas na correria pra tentar realizar uns sonhos loucos pra tentar ajudar o skate de alguma forma. A semente foi plantada.

Essa crise do calçadão não passou de mais um devaneio da política e dessa mídia patética que temos por aqui. O que é uma pena, talento e energia que poderíamos usar para a evolução, sendo desperdiçados.


E os amigos de sessão, quem está junto sempre que pode?

Pingo e Luan são os caras que andam colados comigo. Sempre trocando ideias boas e tentando mandar umas manobras quando o corpo não dói, rs. O Bryan cola no rolê sempre que pode. O Mineiro estava querendo virar Maranhense e andou meio sumido. Os camaradas do calçadão tão sempre na área também. Tem a galera de Guaraparí também, que apesar de andarmos pouco em quantidade, a qualidade sempre consta quando estamos juntos. É muita gente!


Jorge, para fecharmos essa entrevista, gostaria de pedir que me contasse qual caminho à sua fotografia estará mais inclinada em 2013, e qual será o dia que faremos uma sessão, rs?

Em 2013 eu quero parar e poder dar uma estudada com mais calma, vou ver se consigo cumprir este compromisso comigo mesmo. Já a nossa sessão… rs… Vou colar no Rio em Fevereiro, vamos ver se desta vez rola. Você é “enroladão”, rs.


Obrigado por participar dessa série de entrevistas. Sucesso no Design e na fotografia. Mande um abraço para os de verdade;

Obrigado bro! Vamos construindo nossa verdade com o tempo, certos e errados ao mesmo momento.

Um abraço sagaz pro Pingo e pro Luan que são os caras que me aguentam e são parcerias de verdade! Obrigado a todos os amigos que dividem os momentos felizes por aqui, sejam eles dentro ou fora do carrinho, OBRIGADO de verdade.


[+] Conheça o trabalho do fotógrafo Jorge Pena acessando seuFlickr.


 

Jorge Pena - Wallride em Belo Horizonte  (crédito: Gabriel Figueiredo)

Victor Mineiro - Flip Bs Nose Slide & Danny Filming - Vila Velha  (crédito: Jorge Pena)

Pingo - Rock Drop, Vitória  (crédito: Jorge Pena)

Bryan - Flip - Vitória  (crédito: Jorge Pena)

Renan Subtil - Fs Wall Ride - Vitória  (crédito: Jorge Pena)

Skate & lines  (crédito: Jorge Pena)

Push mongo - Brasilia  (crédito: Jorge Pena)

Natâ Astori - Fs Nose Slide - Vitória  (crédito: Jorge Pena)

O carioca Leo Rodrigues em BH  (crédito: Jorge Pena)

Teo - Ollie e Pingo Filming - Vitória  (crédito: Jorge Pena)

Gabriel Figueiredo Pushing - Belo Horizonte  (crédito: Jorge Pena)

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